sábado, 21 de junho de 2008

AAAAAAAAAAAAHHHHH..... LOVE LETTER...




Love letter



"Hiroko Watanabe" (Miho Nakayama) é uma jovem rapariga que vive em Kobe, arrasada pela morte do seu noivo "Fujii Itsuki", ocorrida dois anos antes num acidente de montanhismo. Aquando da celebração do aniversário do falecimento do seu amor, "Hiroko" descobre na casa deste o livro do liceu onde "Itsuki" concluiu o ensino secundário, situado na recôndita cidade de Otaru, na ilha de Hokkaido.



Folheando o livro, "Hiroko" aponta no seu braço a antiga morada de "Itsuki". Mesmo sabendo que a casa de "Itsuki" em Otaru já não existe, atendendo a que foi demolida para dar lugar a uma auto-estrada, "Hiroko" resolve escrever uma carta dirigida ao seu falecido noivo com os simples dizeres "Dear Fujii Itsuki. How are you? I am fine. Hiroko Watanabe".



O objetivo é o simbolismo impregnado e a descarga de sentimentos. "Hiroko" sabe muito bem que não vai obter uma resposta. Pelo menos era o que pensava... Surpreendentemente "Hiroko" recebe uma carta de volta, assinada sob o nome "Fujii Itsuki". A explicação passa por a missiva ter sido entregue a uma rapariga que partilha o mesmo nome que o noivo de "Hiroko".



A homónima de "Itsuki" (igualmente interpretada por Miho Nakayama), ao receber a carta de "Hiroko", tinha ficado assustada, mas ao mesmo tempo curiosa, e decidiu responder da mesma maneira ambígua, sem revelar o facto de ser uma mulher (esta ideia nem lhe ocorreu, pois compreensivelmente nesta altura, não imaginava o que realmente se estava a passar). Novas trocas de correspondência sucedem-se, e acabamos por descobrir que a rapariga "Itsuki" foi colega da mesma turma de liceu do rapaz "Itsuki".



A partir desta premissa, nasce uma forte ligação entre as duas mulheres, que a "Hiroko" servirá para descobrir aspectos que desconhecia da adolescência noivo, e por outro lado fará com que a "Itsuki" feminina redescubra o seu passado e se aperceba que, porventura, nem tudo era o que pressupunha em relação ao "Itsuki" masculino dos tempos de liceu.



Shunji Iwai é um realizador detentor de uma característica que aprecio imenso, e que passa pelo facto de ser capaz de expor, de uma forma simples, uma estória que muito bem poderia acontecer no nosso dia-a-dia e transformá-la num filme que transborda de sentimentalismo anti-barato, e nos toca bem lá no fundo da alma. Já o tinha notado em "April Story" , fiquei completamente rendido nesta obra antecessora daquele filme.




A maneira como Iwai trata do enredo em "Love Letter" é digna dos maiores elogios e aclamações, e salvo um ou outro defeito nunca por demais evidente, roça a quase perfeição. O primeiro ponto a focar é que, apesar de porventura a sinopse indicar o oposto (aqui provavelmente a culpa terá de ser assacada ao subscritor deste texto), a estória é-nos apresentada com uma fluidez tal, fazendo com que nunca nos percamos em devaneios inúteis ou sejamos contagiados pela superficialidade.



Simplesmente o que aqui conta é sentir o anseio, a dor e as expectativas dos intervenientes. Podendo à partida, e pela supramencionada descrição no que tange à troca de correspondência numa fase inicial, haver algum efeito que se reconduza ao paranormal, à semelhança do belo melodrama sul-coreano "Il Mare" , cedo isto se desvanece.



O motor da trama é desencadeado por um simples engano, reconduzindo-se este à entrega de uma carta a uma pessoa com o mesmo nome e que, por coincidência, conhece muito bem o passado do destinatário.



Pensando melhor, aqui eventualmente poderia ser apontada uma falha no enredo que passa pelo seguinte:


i) Constando na carta a morada correcta;



ii) a casa a que corresponde a morada já não existe, pois foi demolida tendo em vista a construção de uma auto-estrada;


iii) a cidade de Otaru é pequena no contexto japonês, mas tem mais de 140.000 habitantes (mais ou menos a mesma população da minha povoação, o Funchal) Pergunta-se com lógica, "porquê que a carta não foi devolvida ao remetente, e pelo contrário foi entregue a uma pessoa que vive noutro ponto completamente diferente da cidade, tendo por único meio de relação, o facto de ter o mesmo nome?" Não opinarei em demasia acerca deste ponto, até porque o filme fascinou-me bastante.




A única desculpa que encontro para este aparentemente inexplicável contrasenso, será o carteiro ser um apaixonado da "Itsuki" feminina e provavelmente ter dado com a carta (quantos carteiros existirão em Otaru?). Adiante! A fotografia é de uma beleza quase inexcedível. O constante cair da neve ilustra com magnificência a dor e o "inverno" dos sentimentos de "Hiroko" e posteriormente da "Itsuki" feminina, transportando igualmente as intermitências dolorosas de uma personagem para a outra.




O desempenho dos actores é bastante aceitável, cabendo as honras quase por completo a Miho Nakayama, uma actriz que não conhecia muito bem, mas que a partir de agora prometo que estarei mais atento. Ela praticamente deslumbra, interpretando duas personagens distintas com igual competência e personalidade.




O melhor elogio que se poderá fazer a Nakayama é ficarmos com a sensação, ao visionar "Love Letter", que estamos perante duas actrizes diferentes e igualmente boas. Não é um caso de dupla personalidade. Constitui, isso sim, duas actuações de elevado mérito, reunidas numa película intemporal.




A banda-sonora ajuda ao desfile agonizante dos sentimentos, sendo contituída sobretudo por bonitas passagens de piano, acompanhadas de um violino que desperta por vezes algumas das nossas sensações mais escondidas. No fim de "Love Letter" há que retirar duas conclusões contra-corrente e eventualmente pessimistas.



A primeira é que nem sempre o tempo cura tudo. Mas caso as feridas do coração não sarem, há que seguir em frente e tentar conviver com a realidade, nunca lutando ingloriamente contra o que não pode ser vencido, ou seja, as recordações. A segunda, não sendo tão óbvia, passará pelo passado muitas vezes voltar para nos assombrar, e mudar completamente a percepção que nós tinhamos de coisas que aconteceram há anos atrás. Às vezes vamos a tempo de alterar as situações; noutras, como em "Love Letter", é tarde demais... Aconselho vivamente!!!



RECOMENDADO.....VERSUS!




Versus




As personagens do filme “Versus – A Ressurreição” não possuem nomes que as identifiquem, e apenas o herói da estória, interpretado por Tak Sakaguchi, tem uma breve referência como o “prisioneiro KSC2-303”. Tal poderá levantar dificuldades na leitura da sinopse, mas tentaremos dar o nosso melhor, como de costume.


Há 500 anos atrás, na “Floresta da Ressureição”, um jovem samurai luta contra um bando de zombies, conseguindo leva-los de vencida com a sua “katana”. A vitória não dura muito, pois o guerreiro depara-se com uma estranha personagem (Hideo Sakaki) que o assassina impiedosamente. Tudo isto é assistido com atenção por outro samurai (Tak Sakaguchi). De volta ao presente, dois condenados fogem da prisão, e embrenham-se numa estranha floresta, tendo em vista alcançarem um grupo de yakuzas que os ajudem a completar a fuga.



Os gangsters esperam pelos foragidos, mas recusam-se a arredar pé, enquanto o chefe não chega. Um dos prisioneiros, “KSC2-303” (de novo Tak Sakaguchi), envolve-se numa altercação com os yakuzas, devido a uma rapariga (Chieko Misaka) que estes raptaram e decide, sem mais, fugir com ela pela misteriosa floresta.


Os yakuzas não se deixam ficar e resolvem ir no encalço dos jovens. Cedo o casal descobre que a floresta tem os seus tenebrosos segredos, encontrando-se infestada de zombies sedentos de sangue. O número de mortos-vivos aumenta exponencialmente, à medida que a matança grassa, e os falecidos acordam completamente alterados.


Quando o chefe Yakuza (outra vez Hideo Sakaki) finalmente chega ao local, segredos imemoriais começam a ser desvendados, e a verdade começa a vir à tona, estando intimamente ligada a um portal para um mundo paralelo que se encontra na floresta, e a um verdadeiro duelo imortal em que são intervenientes principais “KSC2-303” e o líder dos gangsters, constituindo a rapariga a chave essencial para a resolução da trama.


Com um misto de litros de sangue a jorrar, toneladas de violência gratuita, comédia q.b., zombies, uma floresta sinistra e misticismo a rodos, chega-nos um dos verdadeiros itens cinematográficos de culto do reino do sol nascente, “Versus – A Ressurreição”. Sob a chancela do competente realizador Ryuhei Kitamura, responsável, entre outros, por “Aragami”, “Azumi, a Assassina” e “Godzilla: Final Wars”, obtemos um filme que nos deixa sem fôlego quase do princípio ao fim.




“Versus” tem o condão de congregar os amantes de vários estilos cinematográficos distintos, que vão desde o puro “gore”, a acção, as artes marciais, ao “chambara”, o oculto, etc. No entanto, devido à sua grande versatilidade e porventura a uma perigosa e pouco ortodoxa fusão de géneros, poderá afastar os mais tradicionalistas do seu visionamento. Quanto a mim, tenho a dizer que agradou de sobremaneira!



As cenas de luta são de ver e chorar por mais, quer se consubstanciem em trocas de golpes de espada ou de “pancada” à moda antiga (com auxílio de alguns guindastes admita-se), ou duelos infernais de tiroteio “à John Woo” em que as balas parecem nunca acabar. Não amiúde acontece tudo ao mesmo tempo, ou seja, katana, punhos, pés e balas! Estamos pois, de certa forma, perante um verdadeiro “Gun-fu”, se me é permitida a designação.



A caracterização das personagens encontra-se bastante boa, e só não vai mais além, pois em certos momentos podemos nos aperceber que estamos perante um filme que não teve um orçamento desafogado. Mesmo assim, os zombies estão aterradores quanto baste, e o dinheiro que havia deve ter ido metade para comprar litros e litros de sangue falso!


O guarda-roupa está muito “cool”, com o negro e o cabedal a marcarem a presença dominante, num registo que se assemelha a uma trilogia dos irmãos Wachowski que todos nós bem conhecemos. O cenário resume-se praticamente a uma floresta que parece ter sido retirada de “Blair Witch”, e que se assume como um fundo verdadeiramente claustrofóbico, apesar de ser um espaço aberto e ao ar livre.


A certa altura ficamos com a sensação que só existe a vegetação, as personagens e absolutamente nada mais! A banda-sonora consiste sobretudo em música electrónica, muito estilo “techno”, rápido o suficiente para acentuar as partes de acção. As melodias tradicionais marcam igualmente a sua presença, nos recuos da estória até ao Japão feudal.


Contudo, o realce aqui vai para os sons de fundo que acompanham o deambular das personagens pela “Floresta da Ressurreição”, que fazem aumentar o sentimento de reclusão e de suspense. O fim revela uma grande surpresa, e mais não digo! Este misto de “Evil Dead”, “Highlander”, “Matrix” e sei lá mais o quê, convém não perder!


SUMMER SNOW!




Summer Snow




Natsuo é o mais velho de três irmãos, que, após a morte dos seus pais, ficaram responsáveis pela loja de bicicletas da família. Chika, a irmã mais nova, e Jun irmão do meio ainda frequentam o liceu, pelo que contribuem com uma série de imprevistos típicos da adolescência, como o namoro às escondidas de Chika ou a falta de confiança de Jun, provocada pelos problemas de audição e, consequentemente de fala.



A família também é muito ligada ao mar, sendo que os dois irmãos rapazes fazem muitas vezes exploração submarina. Yuki é uma jovem que recentemente arranjou um trabalho como bancária, mas que sofre de um grave problema de coração.


À custa disso, o seu pai, um polícia, restringe-a de fazer certas actividades que a possam por em risco. Um dia, o destino quis juntar Yuki a Natsuo e a partir daí nunca mais se largaram, dada a generosidade e boa vontade do rapaz. Como tal, convence-a a ir ao mar com ele, parra além de lhe mostrar uma vida mais activa e diferente do que ela estava habituada. Mas, por vezes, há obstáculos que não podem ser derrubados, nem com muito amor à mistura.


Esta é a permissa base deste dorama, que se revelou fórmula de sucesso em 2000, e que o tornou num dos mais famosos de sempre, colando ainda hoje muita gente à televisão. Outro ponto de sucesso foram os actores, pois, embora muitos deles estivessem em inicio de carreira, demonstram grande qualidade e maturidade na representação. Para muitos deles, também este dorama foi fundamental para o impulso nas suas carreiras.


A atriz que faz de papel de Yuki, Hirosue ryoko, goza de alguma popularidade tanto noi Japão como no Ocidente, graças ao filme francês Wasabi, onde contracena com Jean Reno. Mas se nesse filme o seu papel era bem mais rebelde, em Summer Snow o caso muda de figura, sendo uma das personagens com mais "jeito" para as cenas dramáticas. Por outro lado, Natsuo (Tsuyoshi Domoto, membro dos Kinki Kids, uma boysband famosa no Japão), desempenha brilhantemente as situações mais cómicas da série, gesticulando e exprimindo-se muito naturalmente.



A série vai evoluindo ao longo dos episódios, dando espaço também às histórias e personagens secundárias, como é o caso da relação inicialmente secreta de Chika e Hiroto, um amigo da família que passa a maior parte do tempo em casa deles. Ainda que estas duas personagens tenham interpretações fracas, não deixam de equilibrar a história e ter algum brilho em algumas cenas.


Por falar em brilho, Jun o irmão do meio, vai perdendo importância ao longo dos episódios, sendo o seu ponto alto nos primeiros episódios da série. Contudo, trata-se apenas do desenrolar da história e não da qualidade do actor Oguri Shun, que se mostra muito competente na sua representação de simular a fala atrofiada do personagem.



Ainda temos a personagem desempenhada por Nakamura Shunsuke, Tachibana Seiji é de certeza o personagem que mais odiarão em Summer Snow. Ele é o vilão. Seiji fará tudo para impedir que Natsuo fique com Yuki, acusando-o várias vezes de a por em risco de vida. Amigo de infância de Yuki, é agora um médico que acha melhor ela ficar com ele por perto dada a sua debilidade.



Outro ponto forte de Summer Snow é a banda sonora. Para além de um belissimo tema da autoria de Zamfir, conta com o tema de encerramento pelos Kinki Kids, a banda de Tsuyoshi Domoto como referi anteriormente. É bastante certo que fiquem muito ligados às personagens, pelo menos o suficiente para chocarem com o dramático final.



Contudo, Summer Snow consegue arrancar muitas gargalhadas e demonstrar um sentido de humor e boa dispoisção genuínos, ao longo dos 11 episódios. Totalmente recomendado!